quinta-feira, 21 de junho de 2012

Falhámos porque acreditamos em quimeras



Por José, blog Porta da Loja


Pedro Lomba interroga-se hoje no Público sobre os motivos do nosso falhanço colectivo. 


Interroga-se e de modo pertinente avança uma explicação: falhámos porque a nossa política e instituições falharam, explica em modo quase convincente ao adiantar um exemplo de duas cidades separadas por um muro no sul dos EUA e na fronteira com o México. A cidade americana de Nogales, Arizona, tem acesso às instituições e políticas americanas: direitos de propriedade, Estado de Direito, concorrência; a cidade mexicana de Nogales, Sonora, nada disso tem e por isso é mais pobre e subdesenvolvida.

A explicação assoma algo de simplista mas é fornecida com a caução intelectual de um "excelente livro de Daron Acemoglu e James Robinson". 


Tal explicação precisa, a meu ver, de complemento, relativamente ao tal papel das instituições e da política a fazerem a diferença. 


E apresento desde já uma nuance: os emigrantes que tínhamos, viviam cá, nos anos sessenta, em ambiente de pobreza relativa. As "instituições e a política" que tínhamos eram susceptíveis de vir a proporcionar riqueza colectiva uns anos depois. Em 1973 tínhamos, com as mesmas instituições e a mesma política, taxas de crescimento económico de fazer inveja a chineses de agora. E os chineses de agora têm uma política  autoritária, com censura e limitação de liberdades 
democráticas. Tal como nós tínhamos.  E não parece haver dúvidas de que o nosso crescimento assim continuaria se não tivesse acontecido o 25 de Abril de 1974, altura em que se mudou radicalmente a política e certas instituições.



Aqueles que queriam alterar as instituições e a política de então, os esquerdistas em geral, venceram em 1974 e impuseram essa mudança. O que sucedeu? Regredimos a olhos vistos, em menos de dois anos. Medina Carreira sabe perfeitamente disso porque era ministro das Finanças na época. Ganhamos uma liberdade política de votar em partidos que se organizaram do modo que sabemos; ganhamos um Estado de Direito parecido com os europeus, onde os emigrantes então viviam e de onde mandavam o dinheiro que então nos salvou da bancarrota e ainda assim, com a mudança das instituições, afundamo-nos economicamente durante décadas.

Porquê, então? Por causa da política? Sem dúvida, mas há políticas e políticas e se há política que nos afundou a sério e sem horizonte à vista foi a dos "taváriches" de 75 que se prolongou durante décadas mesmo sem serem eles a conduzirem as rédeas da economia.


As sementes de quimera que deixaram produziram este belo fruto que temos: o da pobreza.




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